Modelos tradicionais de storage em nuvem (S3, GCS, Azure Blob) cobram sempre que objetos saem da sua região. Essa topologia de cobrança transforma a entrega global em um imposto recorrente: egress de origem, origin fills de CDN, replicação cross-region e transferências interserviços se combinam em linhas de custo voláteis e frequentemente dominantes.
Object Storage em uma infraestrutura distribuída inverte essa equação: objetos residem mais próximos dos usuários. O resultado é estrutural, não incremental — implementações típicas reportam uma redução de 30% a 80% no egress de origem e cross-region, offload dramático da origem, consolidação de entrega e compute, e contas muito mais previsíveis.
Este artigo sintetiza métricas representativas, transformação empresarial e as compensações técnicas que você deve avaliar. Leia isto se você quer parar de aceitar o egress como inevitável e começar a redesenhar sua topologia de dados para escala global e custos previsíveis.
Por que isso importa?
Equipes de FinOps são boas em fazer rightsizing de instâncias e saving plans. No entanto, um dos drivers de custo de crescimento mais rápido e menos compreendido é o movimento de dados. De forma conservadora, empresas gastam dezenas de bilhões anualmente em egress evitáveis, transferência cross-region e cobranças de replicação em nuvens públicas. A questão não é a engenharia ruim — é a topologia.
Em um modelo centralizado, uma única requisição de usuário geralmente cria múltiplos eventos faturáveis:
- Cliente → CDN (cache miss) → Armazenamento de origem → Compute de origem para transformações → Resposta.
Cada hop pode produzir cobranças de largura de banda, taxas de transferência cross-service e retransmissões que multiplicam os bytes na rede. Multiplique isso por milhões de requisições e dezenas de regiões, e os totais se tornam grandes e imprevisíveis.
O Object Storage distribuído muda a física do sistema: ao armazenar e processar objetos nos mesmos locais que atendem aos usuários, a maioria das requisições é satisfeita localmente e nunca toca a origem. Consequentemente, os custos de cache fills, transferências cross-region e egress interserviços caem drasticamente ou desaparecem.
Impactos quantificáveis: intervalos realistas e suas variáveis
Em múltiplas análises e migrações empresariais, os benefícios práticos se enquadram em intervalos repetíveis. No entanto, esses intervalos são representativos — e seus resultados reais dependerão muito do perfil de tráfego, distribuição geográfica, tamanho do objeto, cacheabilidade e mix de leitura/escrita.
- Redução de Egress (origem / cross-region): 30%–80% (maior para ativos globalmente distribuídos e com alta intensidade de leitura (read-heavy)).
- Offload de Origem: o tráfego de leitura de origem geralmente cai de $\approx 70\%$ de dependência para 3–10%, permitindo frotas otimizadas para leitura menores.
- Custos de Replicação: efetivamente eliminados para disponibilidade global de leitura onde a plataforma fornece distribuição nativa (sujeito a restrições de residência de dados).
- Redução da Fatura de CDN: 30%–50% para ativos estáticos de alto volume devido a menos cache fills e uma camada de entrega unificada.
- Eficiência de Largura de Banda: 10%–20% menos bytes totais transferidos ao reduzir repetições (retries), downloads parciais e retransmissões.
- Previsibilidade de Custos: a variação mês a mês geralmente cai 60%–80% em relatórios empresariais.
Esses intervalos são direcionais e devem ser validados por meio de um piloto que meça leituras de origem, GBs de egress e taxas de acerto de cache antes e depois da migração.
Uma Transformação na América Latina
Marisa, a maior rede de moda feminina do Brasil, com vendas digitais ultrapassando 70% via aplicativo. O crescimento exponencial exigia uma tecnologia capaz de reduzir latência e custos de infraestrutura, ao mesmo tempo que viabilizava caching avançado e otimização de milhões de imagens de alta resolução.
Ações Tomadas (Uso de Object Storage Distribuído):
- Migração para Azion, utilizando Data Centers distribuídos por todo o Brasil.
- Implementação do Image Processor para otimização, conversão e manipulação de milhões de imagens em tempo real.
- Configuração de Cache customizável para elementos estáticos e dinâmicos.
- Uso de Application Accelerator e Rules Engine para controle granular de APIs.
Resultados Principais (em 6 Meses):
- Offload de Origem: 85% dos dados são entregues em pontos mais próximos do usuário.
- Economia de Dados: Mais de 730 TB em dados transferidos sem impactar a origem e 4,3 TB de largura de banda economizados por dia (via Image Processor).
- Performance: Ganho significativo em métricas web vitals como First Contentful Paint, Speed Index e Time to Interactive.
- Impacto no Negócio: Taxa de conversão do App 50% acima da web e crescimento de 96% nas vendas online.
Por Que o Storage Distribuído Vence?
O benefício não é meramente um caching melhor — é mudar onde os objetos e o compute residem.
Arquitetura Tradicional
Topologia típica
- Armazenamento centralizado em 1–2 regiões
- CDN apenas entregando conteúdo; cada miss exige preencher a origem
- Pipelines de replicação para alta disponibilidade
- Transformações (thumbnails, manifests, compactações etc.) sempre executadas na origem
Custos e problemas resultantes
- Egress recorrente devido a origin fills
- Replicação inter-regiões gerando custos adicionais
- Transferências entre serviços (storage ↔ compute) impactando a fatura
- Escalonamento forçado em picos e cache stampedes
- Mais componentes, mais hops, mais linhas imprevisíveis na fatura
Arquitetura Distribuída
Topologia ideal
- Upload único que distribui objetos globalmente
- Compute distribuído co-localizado com o storage
- Entrega, armazenamento, cache e transformações no mesmo plano de execução
- Arquivamento frio opcional em buckets regionais
Benefícios estruturais
- Misses raros: a maioria das requisições é atendida localmente
- Pipelines de replicação deixam de existir
- Transformações executadas próximas dos objetos, sem transferências cruzadas
- Menos componentes, menos hops e menos superfícies de cobrança → Resultados: faturas mais estáveis, previsíveis e limpas
Fluxos técnicos (exemplos simplificados)
Traditional (S3 + CDN):
aws s3 cp asset.jpg s3://my-bucket/assets/asset.jpg --region us-east-1
# CDN request triggers origin fill on first missGET https://cdn.example.com/assets/asset.jpg # CDN -> S3 (egress)Object Storage (upload once, serve locally):
curl -X PUT "https://edge.example.com/v1/storage/assets/asset.jpg" \ -H "Authorization: Bearer $TOKEN" --data-binary @asset.jpg
# Client request served from nearest POP (no origin egress)GET https://edge.example.com/assets/asset.jpgAlavancas de Custo Concretas
- Menor transferência de dados (Egress) por design
- Offload massivo da origem → Cloud footprint menor
- Sem pipeline de replicação multi-região
- Custos de CDN Reduzidos (entrega + storage unificados)
- Menor latência → menos retries → menos largura de banda
- Economia com Compute Offload
- Menos fornecedores, menor TCO
- Faturas estáveis e previsíveis mês a mês
Como Avaliar e Pilotar (Checklist Prático)
- Faça o perfil do seu tráfego
- Divida as porcentagens de leitura/write, volume de requisições por região e cacheabilidade.
- Identifique ativos de alto volume (imagens, chunks de vídeo, firmware) e conteúdo dinâmico/semi-dinâmico.
- Quantifique os custos de Origin-Fill e Egress
- Meça GBs de leitura de origem, transferências cross-region e CDN origin fills dos últimos 3–6 meses.
- Inclua overhead de retry e download parcial sempre que possível.
- Escolha um piloto pequeno e de alto impacto
- Comece com ativos estáticos ou semi-dinâmicos (imagens, JS/CSS, thumbnails).
- Mova transformações (redimensionamento/conversão de formato de imagem) para functions rodando mais perto do usuário.
- Instrumente e compare
- Rastreie a redução de leitura de origem, economia de egress por GB, latência, taxa de acerto de cache e variância mensal.
- Compare eventos de autoscaling, contagem de instâncias e taxas de erro/retry antes/depois.
- Valide a conformidade e necessidades operacionais
- Confirme residência de dados, controle de acesso, logging, tiering de ciclo de vida e SLAs.
- Defina a estratégia de arquivamento (ex: tier para S3/GCS/Azure Blob para dados frios, se necessário).
- Itere e expanda
- Uma vez que o storage e as transformações centrais rodem em uma infraestrutura distribuída, adicione personalização, testes A/B e outras operações dinâmicas executadas mais perto do usuário.
Arquitetura > Otimização
Muitas equipes extraem economias de arquiteturas centralizadas ajustando caches, TTLs ou negociando descontos de egress. Essas técnicas ajudam, mas otimizam uma topologia custosa. Storage na borda — ou, mais precisamente, object storage em infraestrutura distribuída — é uma mudança arquitetural que altera o fundamento econômico: torne as requisições locais em vez de pagar repetidamente para mover dados entre regiões.
Se o seu negócio é globalmente distribuído, intensivo em leitura (read-heavy) e sensível a custos variáveis de egress, a decisão é quando, e não se, redesenhar sua topologia de dados. Os early adopters não estão apenas economizando dinheiro hoje — estão construindo vantagens de longo prazo em margem, desempenho e velocidade de entrada no mercado.





